segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Espiritualidade para a Contracultura: O Transe

A Contracultura é um movimento que, como diz o nome, vêm nadando “contra” a corrente, “contra” as culturas massivas, surgiu entre os anos 60 e início dos 80 (a depender da região), como resposta da juventude à tempos de repressão e de ditadura militar.

Imagem: Quadro de Pablo Amaringo, ícone da Arte Visionária.

Como ato de rebeldia e talvez como forma de “fugir” da realidade dura em que se encontrava nossa sociedade na época as pessoas passaram a buscar saídas ou “escapes” nas drogas, especialmente aquelas de caráter psicoativo, como numa maneira de viver no onirismo, nos sonhos, distantes da realidade que o mundo mostrava até então.

O contato com plantas psicoativas, melhor nomeadas enteógenas (do grego: “en theos”, ou Deus dentro) sempre foi parte do cotidiano dos nativos do mundo como já foi explicado nos materiais sobre o Xamanismo, este contato se perdeu com a urbanização, a evolução tecnológica e as colonizações que findaram marginalizando a cultura do Transe, o que também foi uma forma de manipulação em massa, já que as pessoas desprovidas de saberes ocultos e intuitivos poderiam ser mais facilmente distraídas para servir ao consumo e ao controle das Elites e seus sistemas financeiros.
Na contemporaneidade podemos entender essa busca desenfreada dos jovens por alucinógenos e outros métodos expansores de consciência, adrenalina e/ou relaxamento, como uma inconsciente busca, na verdade, pelo contato com o Divino, com o Sagrado e por conseguinte, consigo mesmo.


As Celebrações Profanas da Atualidade

As celebrações profanas, as raves, baladas e outras reuniões onde os jovens se encontram para dançar, conversar, e quase sempre também embriagarem-se, nada mais são do que tentativas do inconsciente coletivo de recriar o cenário ancestral das celebrações nativas, das festividades à beira de fogueiras, das músicas repetitivas com tambores para induzir estados meditativos e expansores de consciência (daí originou-se o estilo de música “Trance” = Transe), e mesmo o estado de alegria e de comunhão natural do ser humano em harmonia com seus irmãos, que foi perdido à mesma medida do avanço tecnológico e do sistema capitalista, que nos afastou do contato físico, do convívio pessoal e nos tornou egoístas, individualistas, pessoas centradas em carreiras, dinheiro e que sequer possuem lazeres para si próprios, agindo dentro de condicionamentos impostos socialmente desde a infância, tão enraizados, que não nos permite “abrir os nossos olhos”. Somos nós, os homens urbanos os verdadeiros zumbis, os ignorantes sobre as verdades da vida.

Então o que resta para o final de semana é o extravasamento de todas estas frustrações, umas conscientes, mas a maioria muito inconsciente, muitos estão buscando por algo, mas a maioria não sabe o que está buscando.


Religiões e Seitas “Nova Era”

Dentro desse contexto da Contracultura dos anos 60 aos 80, surgem ou apenas ganham mais notoriedade algumas religiões e seitas relativamente novas, especialmente para as metrópoles.

No Rio de Janeiro surgia a Umbanda, no Acre surgia o Santo Daime, e nos EUA chegava o até então conservador Hinduísmo Vaisnava (ou Consciência de Krishna). Essas três principais religiões possuem uma coisa em comum: resgataram muitos jovens do vício nas drogas.

Umbanda
A Umbanda enquanto culto recém “criado” e de origens Africanas logo foi jogada às margens da sociedade, o que atraía muito aos jovens da Contracultura, pois lutavam, sobretudo por liberdade, especialmente o povo negro. Além de ter na mediunidade uma espécie de Transe, possuía também a alegria da celebratividade dos seus tambores e danças rituais.

Santo Daime
Quase que concomitantemente na Amazônia, na igreja chamada de Céu do Mapiá, o dirigente Padrinho Sebastião passava a receber em sua comunidade Daimista muitos jovens “hippies” que chegavam em sua maioria atraídos pela ideia da expansão de consciência, além do modo de vida simples, em comunidade, à parte dos sistemas financeiros que outrora os oprimia.

Consciência de Krishna
E foi em meados dos anos 70 também que chegava Srila. Prabhupada de navio nos EUA a pedido de seu Mestre Espiritual a fim de espalhar a Consciência de Krishna, e foi nesta época que muitos "hippies" tornaram-se também devotos, especialmente em São Francisco, todos sempre recebidos nos simples templos (mesmo drogados ou de ressaca), que oferecia inclusive alimentos, e a experiência do Transe através da meditação e dos cantos congregacionais conhecidos por “Kirtanas”. Soube por devotos que no Brasil muitos punks também se converteram ao Vaisnavismo em época pouco posterior.


Atualidade

Na atualidade, por estranho que pareça, após o Santo Daime ter se aliado à Umbanda, algum tempo depois começaram a surgir cultos também Ayahuasqueiros (que utilizam o mesmo Sacramento utilizado na Doutrina Daimista, o Daime/Ayahuasca), de cunho Universalista, e muitos deles dando abertura também para a cultura Hindu, em especial a mesma Consciência de Krishna mencionada há pouco.

É importante observar o quanto o afastamento não somente das Plantas de Poder, mas da cultura do Transe em geral, da musicalidade ritual e das confraternizações religiosas causou uma cisão na alma e na personalidade das pessoas, sendo notada especial e principalmente nos jovens, que segundo alguns estudiosos espiritualistas, são os Índigos, aqueles que vieram para causar revoluções na sociedade.

As seitas e religiões “modernas” ou “Nova Era” vieram com esse intuito de nos resgatar, de tirar as pessoas do “buraco” das drogas, de retomar o contato com si próprio, com a natureza e o irmão, à parte de comércios e outros oportunismos que sempre acabam envolvendo tudo o que ganha popularidade numa sociedade capitalista, podemos dizer que estes acontecimentos realmente vêm causando mudanças a níveis significativos no planeta. A espiritualidade do Transe nos traz o onirismo e a beleza, não mais de “fugir à realidade”, mas como o mundo real, no qual a verdadeira ilusão é o cotidiano massante na busca pelo capital, por isso a importância de vedar-se os comércios espirituais, que desviam os caminhos do desenvolvimento e nos colocam de volta no mesmo sistema a que nos rebelamos.


Teve alguma dúvida? Em breve haverão mais textos explicando mais profundamente muitos dos conceitos aqui expressados, aguarde, comente sua dúvida (pois pode ser a de outros leitores), ou me envie um e-mail: 
vandanashakti@hotmail.com.

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